Sepultura

Sepultura

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Sepultura é a banda brasileira mais foda de metal, na estrada desde 1984 e criada pelos irmãos Max Cavalera e Igor Cavalera em Belo Horizonte, Minas Gerais. É considerada a banda brasileira de maior repercussão no mundo. O Sepultura possui influências diversificadas, que vai desde o black metal e death metal, passando pelo thrash metal, até inspirações externas ao metal, como hardcore, música tribal africana e japonesa, música indígena, entre outros diversos estilos musicais.

O nome Sepultura (em inglês, grave) foi escolhido quando Max Cavalera traduzia uma canção do Motörhead chamada “Dancing on Your Grave”. Originalmente tinha a formação de Paulo Jr. (baixista), Igor Cavalera (baterista), Max Cavalera (somente guitarrista) e Wagner Lamounier (guitarrista e vocalista). Em 1985, sai Wagner, que formaria o Sarcófago, e Max assume os vocais, Jairo Guedez entra como segundo guitarrista. No ano seguinte sai Jairo e, em 1987, entra na banda Andreas Kisser em seu lugar, estabelecendo a formação clássica que duraria dez anos. Agora em sua formação atual, o vocal é feito pelo americano Derrick Green e a bateria por Eloy Casagrande, ficando Andreas como guitarrista único.

Sepultura já vendeu aproximadamente 20 milhões de unidades mundialmente, ganhando múltiplos discos de ouro e platina em todo o mundo, inclusive em países como França, Austrália, Indonésia, Estados Unidos, e sua terra natal Brasil.

Começo de carreira (1983-1991)

Foi em Belo Horizonte, no ano de 1983 que a história do Sepultura começou[5]. Mais precisamente quando os irmãos Cavalera Max e Igor decidiram chamar seus amigos de colégio Paulo Jr. e Jairo Guedez para montar uma banda[16]. Um ano depois, num festival de bandas em Belo Horizonte, a Cogumelo Records contrata a banda, após o dono da gravadora ter assistido ao show do Sepultura, e o grupo decide fazer um disco. O nome é Bestial Devastation, que foi gravado em apenas dois dias (dividido com a banda Overdose), mas só seria lançado em 1985. A banda, então, faz uma turnê brasileira para promover o primeiro álbum. Já em 1986, é gravado Morbid Visions, ainda pela Cogumelo Records e a banda sai em turnê novamente. Pouco depois, a gravadora relançaria Bestial Devastation e Morbid Visions em um só LP. Ainda no mesmo ano, o guitarrista Jairo sai da banda, e Andreas Kisser, que já havia feito algumas jams com o grupo, junta-se a eles. Ainda em 86, o Sepultura processou a gravadora Shark por ter lançado álbuns do Sepultura fora do Brasil.

No ano seguinte, depois de escrito o álbum, sai Schizophrenia, que foi o primeiro com Andreas na guitarra, e o último com a produção da gravadora Cogumelo. Foi com este álbum que a banda disparou, e vendeu cerca de 10 mil cópias nas primeiras semanas. A gravadora New Renaissance lançou o disco nos Estados Unidos. O furor provocado pelo Schizophrenia fez com que houvesse um lançamento pirata do disco por uma gravadora europeia, que chegou à marca de 30 mil cópias vendidas, porém sem a banda poder usufruir dos direitos autorais. Em 1989, o Sepultura assinou com a Roadrunner Records, conseguindo um contrato de sete anos. Como era o que a banda precisava, lançaram o novo álbum pela nova gravadora, sendo o terceiro lançamento do grupo, Beneath the Remains. Este foi gravado em nove dias e produzido pelo produtor americano Scott Burns. Foi o álbum que provou que o Sepultura podia gerar vendas milionárias, e até hoje já vendeu mais de 800.000 cópias mundo afora.

Após o lançamento, o disco acabou sendo comparado com Reign in Blood, clássico do Slayer. E, pela primeira vez, o Sepultura sai em turnê fora do Brasil, tocando junto dos alemães do Sodom na Áustria, Estados Unidos e México. Essa turnê foi marcada pelos conflitos constantes entre os membros das duas bandas. Em 1990, a banda toca em vários shows, incluindo o Dynamo Open Air Festival, com cerca de 26 mil pagantes, e conhecem Gloria Bujnowski, empresária do Sacred Reich. O grupo decide tê-la também como empresária. Depois das apresentações, o Sepultura entra em estúdio para regravar “Troops of Doom”, que a Roadrunner usaria para relançar o álbum Schizophrenia remixado. Ainda no mesmo ano, a Cogumelo relança Bestial Devastation com uma nova versão de “Troops of Doom”.

Arise

A banda chamou atenção por onde passou e seu nome despontou na mídia mundial. Nesta turnê encontraram uma de suas fontes de inspiração, Lemmy Kilmister e sua banda Motörhead, cruzaram o muro de Berlim ainda na época da guerra fria, e até conheceram o Metallica, uma banda muito forte na época. Foi gravado nesta época o primeiro videoclipe do Sepultura, “Inner Self”, que tal qual “Mass Hypnosis” e “Beneath the Remains”, tornou-se um clássico da banda. Em 1991, o Sepultura toca no Rock in Rio II, para 50 mil pessoas. Dois meses depois, a atual gravadora da banda lança Arise, que vende cerca de 160 mil cópias nas 8 primeiras semanas. Ao final da turnê de divulgação, o álbum já tinha vendido mais de 1.000.000 de cópias, e figurou a posição 119 no top 200 da Billboard. Como seu antecessor, também foi produzido por Scott Burns. É considerado pela maioria dos fãs de longa data o melhor álbum do grupo.

No mesmo ano, são lançados alguns singles, como “Arise”, “Under Siege (Regnum Irae)” e “Dead Embryonic Cells”. Logo após a apresentação no Rio a banda promoveu um show gratuito em São Paulo na praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, o show contou com aproximadamente 40 mil pessoas. Mas algumas pessoas confundiram o espírito de confraternização dos fãs, e um rapaz foi assassinado. Esta fatalidade criou um falso mito sobre o público da banda, que repercutiu por muitos anos negativamente fazendo com que muitos produtores de shows brasileiros temessem marcar shows com o grupo.

Repercussão no exterior

No exterior, por sua vez, a turnê do Arise foi longa e passou por lugares inéditos como Grécia e Japão. Na Austrália foi lançado o primeiro EP oficial da banda, o Third World Posse. Na Holanda estrearam em um festival internacional de grande repercussão, o “Dynamo Open Air”, para mais de 30 mil pessoas. E atraíram mais de 100 mil pessoas nas duas apresentações feitas em estádios quando estiveram na Indonésia. Lá também foram premiados com fitas cassetes de ouro pelas boas vendas.

Gravaram os clipes de “Arise” e “Dead Embryonic Cells”, e lançaram seu primeiro home-vídeo, “Under Siege”, que foi gravado em Barcelona, Espanha. Com todos estes acontecimentos ligados ao disco Arise, o Sepultura firmou seu nome mundo a fora. Em 1992 Third World Posse é lançado. O álbum tem três músicas ao vivo tiradas do vídeo Under Siege (Live in Barcelona), além de “Drug Me” de Jello Biafra e “Dead Embryonic Cells”, do disco Arise. Ainda em 1992, acontece o casamento de Max com a empresária Glória.

A essa altura, o Sepultura já era considerado uma das melhores bandas de Thrash Metal do mundo. Em 1993, o Sepultura lança o disco Chaos A.D., que já possuía influências tribais e já não tinha toda a violência de Arise, e menos ainda dos primeiros álbuns da banda. Ainda assim, percebia-se que a banda ainda se preocupava com a situação geopolítica mundial, pois pérolas como “Refuse/Resist” e “Territory” estão incrustadas neste álbum, além de “Manifest”, que denunciava o massacre da penintenciária do Carandiru, onde 111 detentos foram mortos. Mesmo não sendo tão violento quanto os antecessores, Chaos A.D. foi um sucesso, e até hoje, já vendeu mais de 1 milhão de cópias mundo afora.

O Sepultura optou por um lado musical nunca antes explorado, misturando seu som brutal com elementos de música popular, e com isto definiram a linha musical de vanguarda que se tornou sua marca registrada. O lançamento de Chaos A.D. aconteceu em um castelo medieval na Inglaterra e com a presença de boa parte da imprensa mundial. Nesta turnê a banda foi até Israel gravar o clipe da música “Territory”, também lançada como single. Este vídeo foi eleito o melhor videoclipe do ano pela MTV Brasil, que levou a banda à Los Angeles para receber o astronauta de prata. Outros clipes/singles tirados deste álbum foram “Refuse/Resist” e “Slave New World”, e o home-vídeo “Third World Chaos”. Este álbum que inclui um cover da canção “The Hunt”, do New Model Army. “Biotech Is Godzilla” foi escrita por Jello Biafra, além de uma faixa especial, onde os integrantes se acabam de rir e gritar, e mais uma versão de “Polícia”, dos Titãs, disponível apenas na versão brasileira do álbum. O single “Territory” também é lançado nesse mesmo ano. Ainda em 1993 nasce o primeiro filho de Glória e Max: Zyon.

Nesta turnê o Sepultura foi a primeira banda de metal da América Latina a se apresentar no tradicional festival Monsters of Rock, no Donington Park, Inglaterra, na frente de 50 mil pessoas, quantidade equalitária ao Rock in Rio II, onde o Sepultura também foi atração. E também a primeira banda do Brasil a tocar na Rússia. De volta ao Brasil, a banda foi convidada a tocar no festival Hollywood Rock só após um abaixo-assinado feito pelo fã clube oficial brasileiro. Isso devido ao boicote por parte dos organizadores do evento, amedrontados com o incidente em São Paulo anos atrás. Em 1994, o EP Refuse/Resist é lançado. O álbum é uma espécie de coletânea com músicas ao vivo, de estúdio, “Drug Me” (de Jello Biafra) e ainda uma música de nome “Inhuman Nature”, da banda Final Conflict. O single “Slave New World” é lançado.

Em 1994, Andreas se casa com Patrícia, e a banda começa a compor material para novo álbum e single. No ano seguinte, o segundo vídeo do Sepultura, o Third World Chaos é lançado, contendo alguns clipes da banda, trechos de entrevistas com a MTV brasileira, americana, europeia e japonesa. O vídeo contém um trecho de entrevista em que o entrevistador é Bruce Dickinson, quando ele tinha o seu programa de entrevistas na rede inglesa de televisão. Ainda em 1995, nasce Giulia Kisser, a primeira filha de Patrícia e Andreas; Igor se casa com Monika, e Igor Amadeus, segundo filho de Glória e Max, nasce. Em 1996, o compacto Roots Bloody Roots é lançado, contendo quatro faixas, “Roots Bloody Roots”, “Procreation of the Wicked” (um cover da banda black metal Celtic Frost), “Refuse/Resist” e “Territory” (ambas gravadas ao vivo em Minneapolis, Estados Unidos). Outros singles foram lançados, “Ratamahatta” e “Attitude”.

O álbum Roots (1996)

Mais tarde, no mesmo ano, sai Roots, um dos álbuns mais aguardados do ano. O disco mostrou um lado mais experimental da banda, com uma participação de Carlinhos Brown na canção Ratamahatta, e presença ao longo do disco de percussão, berimbau e várias batidas tribais. O disco contém ainda duas músicas gravadas conjuntamente com os índios xavantes Jasco e Itsari, no Mato Grosso. A música “Itsari” foi gravada na Aldeia Pimentel Barbosa no ano de 1995, às margens do Rio das Mortes no estado de Mato Grosso. Já o restante do álbum foram feitas em Malibu no estúdio Índigo Ranch, dotado de instrumentos de idade avançada, e fazendo da gravação a mais crua possível. Os clipes/singles foram “Roots Bloody Roots” gravado na cidade de Salvador, “Attitude” que teve fotos de tatuagens de fanáticos pelo Sepultura como capa, e contou com a participação especial da família Gracie no videoclipe. “Ratamahatta” foi um clipe diferente de todos os anteriores do Sepultura, feito todo em animação gráfica computadorizada.

A versão brasileira tem também “Procreation of the Wicked” do Celtic Frost e “Symptom of the Universe” do Black Sabbath, além de “Lookaway”, escrita por Jonathan Davis da banda Korn.

Em meados de 1996, a banda fica sabendo do assassinato de Dana Wells, filho de Gloria Cavalera. Max e Gloria vão para os Estados Unidos e o Sepultura toca em trio no Donnington 1996, com Andreas nos vocais. O grupo termina a turnê tocando no Ozzfest, após cancelar três semanas de shows dos Estados Unidos. De acordo com a seleção de Spence D. e Ed Thompson, do site IGN Music, o disco Roots[17], lançado pelo Sepultura em 1996, está na posição 23 dos 25 discos considerados os mais influentes do heavy metal. Encabeçando a lista está Master of Puppets, lançado pelo Metallica em 1986. Ainda foi lançado o disco duplo The Roots of Sepultura, no qual um dos discos conta boa parte da história musical da banda, e o segundo é o álbum Roots.

Saída de Max Cavalera

Finalmente, em dezembro de 1996, chega a notícia que mudaria completamente o rumo da banda: Max Cavalera deixaria a banda. Aconteceu quando os outros três integrantes, em reunião, decidem demitir Gloria Cavalera do posto de empresária da banda, alegando que esta dava apenas espaço para seu marido, Max, ao contrário de antigamente: quando o Sepultura aparecia, todos os quatro integrantes estavam na foto, e não apenas Max. Com a esposa fora da banda, Max se sente traído e resolve separar seu caminho do caminho do resto da banda.

A discussão é imensa. Andreas, Igor e Paulo tinham a convicção de que a empresária já não estava mais os representando do jeito que deveria e comunicaram sua decisão de não renovar seu contrato de trabalho. Havia a opção de que ela continuar a cuidar dos interesses de Max. Ele não aceitou a decisão dos companheiros e abandonou o Sepultura, achando estar sendo injustiçado. A partir de então as incertezas caíram sobre o Sepultura e o futuro era incerto.

Com o tempo a banda acostumou-se à nova situação imposta, e que não poderia parar o trabalho de uma vida toda dessa forma. E assim que puderam começaram a escrever seu próximo álbum, como um trio. Max formou sua própria banda, Soulfly. “Durante este um ano e meio, pensamos em tudo”, diz Andreas. “De fato, pensamos em dizer se foda a todo mundo, se foda a música, se fodam as bandas, a porra toda. Mas não tomamos nenhuma decisão durante o período mais turbulento, porque essas decisões geralmente se mostram erradas, mais tarde. Fizemos as coisas calmamente, e levamos o tempo necessário para pensar a respeito da situação toda”.

Ainda nesse ano, nasce a primeira filha de Igor e Monika, Joanna. Em 1997, sai outra coletânea, Blood-Rooted. A Roadrunner lança também uma coleção de músicas do Sepultura, com versões alternativas e demos, o B-Sides, além de relançar todos os discos do Sepultura até Arise, com os nomes de Gold CD re-issue, remasterizados e com faixas bônus. Sai ainda o vídeo We Who Are Not as Others.

A volta do Sepultura

Igor, Paulo e Andreas passaram a escrever de uma nova forma. Agora o baixo ganhou uma importância ainda maior, como base das músicas. Andreas assumiu os vocais, mas nunca havia cantado antes e não se sentiu à vontade no posto. Decidiram encontrar um novo vocalista para o Sepultura. As fitas de demonstração chegaram em grande quantidade aos escritórios da RoadRunner, e fizeram assim um processo de seleção. Um pequeno grupo de finalistas foi selecionado, e os candidatos receberam uma fita com músicas nas quais deveriam trabalhar, inclusive escrevendo letras, antes de encontrarem a banda para os testes.

Os testes finais aconteceram no Brasil, também foi levado em conta a integração e a afeição entre o grupo. Desde o começo da procura, a voz e a aparência de Derrick Green impressionou. Quando ele esteve no Brasil para os testes sentiu-se em casa, virou palmeirense, e se entendeu extremamente bem com a banda. A maior parte das músicas já estava pronta, esperando a gravação dos vocais, e a banda estava sob pressão para lançar o disco.

Então, em 1998, o Sepultura volta com um novo single, “Against”, do álbum de mesmo nome Against, mostrando todo o poder do novo vocalista Derrick Leon Green, apelidado de Predador. O single foi produzido por Howard Benson e mixado por Bill Kennedy. “Não sabíamos nem se devíamos usar o nome Sepultura, diz Igor Cavalera a respeito da evolução da banda. Decidimos que escreveríamos algumas músicas primeiro, e se não soasse como Sepultura, então pararíamos de usar o nome na mesma hora. Mas logo que tinhamos as músicas, vimos que tinhamos razão para manter o nome. E quanto mais tocamos, mais confortáveis nos sentimos. O único apoio que tivemos durante todo o tempo foi tocar música. Várias pessoas pensavam que o Sepultura era apenas Max, e que nós éramos apenas músicos por detrás dele”, diz Andreas. “Mas o Sepultura sempre foi todo mundo junto, e com a contribuição de todos para as ideias. Temos a mesma atitude, a mesma música, a mesma mensagem. A única coisa diferente é que Derrick está aqui, agora.”

Em maio, o Sepultura viajava para o Japão para gravar, junto com a banda de percussão japonesa Kodō, a música “Kamaitachi”, uma das faixas do novo álbum. Já em abril, começa a gravação das músicas restantes, já com a participação de Derrick. Em agosto, o Sepultura toca no show Barulho Contra a Fome, que serviu para angariar fundos e comida para os pobres, e o segundo single da banda, “Choke”, é agendado para ser lançado em novembro. Sobrevivendo ao período mais difícil de suas carreiras, o Sepultura retoma suas atividades e volta com seu novo álbum, Nation, que falará por eles. “É uma boa hora pra voltar à ideia do que o Sepultura é!”, conclui Igor. “Não é apenas eu, ou Andreas, ou Paulo, ou o Derrick, é a química de quatro pessoas tocando juntas.”

Dante XXI

Ver artigo principal: Dante XXI

O décimo álbum de estúdio do Sepultura, Dante XXI, foi lançado em 2006, baseado no livro “A Divina Comédia” de Dante Alighieri. A odisséia pelo inferno, purgatório e paraíso à qual se lançou o personagem Dante narrada no livro é refeita musicalmente pelo som pesado da banda, sendo lançado pela gravadora SPV Records. Dentro da discografia da banda, Dante XXI figura como seu terceiro álbum temático. Eles já haviam feito algo do gênero em Roots de 1996, inspirados pela cultura brasileira e africana, e depois em Nation de 2001, em que flertavam com uma nação utópica. Para o guitarrista Andreas Kisser, a escolha de um caminho para o disco acaba sendo necessária. “Você chega a um ponto de escrever por escrever, fica sem sentido”, diz.

A solução do tema partiu do vocalista Derrick Green, que puxou pela memória o estudo de A Divina Comédia nos tempos do colégio. Ideia acatada, todos se voltaram à obra, principalmente Kisser, que se aprofundou no assunto. Envolvidos em trilhas para cinema há tempos, tanto Kisser quanto o restante do Sepultura transferiram um pouco dessa experiência para o novo trabalho. “A ideia era fazer a trilha para o livro”, conceitua o baixista Paulo Xisto. Chamaram André Moraes, no qual já era recorrente nessas trilhas, para se encarregar da orquestração do álbum, cuidando dos arranjos mais elaborados, que requereram instrumentos nada usuais na sonoridade crua da banda, como celo e piano, estes utilizados para dar diferenciação às passagens do purgatório e do paraíso. “A sonoridade da parte do Inferno foi mais familiar, usamos elementos da banda, como bateria, baixo, guitarra”, explica Kisser.

O baterista Igor Cavalera aparece nos créditos, mas decidiu abandonar a banda antes do início da turnê. Em seu lugar, entrou Jean Dolabella. Segundo Kisser, a saída de Igor não foi tão traumática quanto a de Max, porque ele já vinha dividindo com os demais seu desejo de sair do Sepultura. “A gente estava esperando isso acontecer. Ele não estava demonstrando interesse em se dedicar à turnê”, completa Xisto.

Com esse álbum a banda fez uma turnê mundial por onde tocou pela primeira vez na Índia[18]. Esta turnê da banda, feita para a divulgação do álbum Dante XXI, passou por diversos países na Europa, América do Norte e América Latina, totalizando mais de 100 shows. Em 2007 o grupo foi atração em alguns festivais no Brasil, como Abril Pro Rock, em Recife, e Porão do Rock, em Brasília.

A-Lex

Ver artigo principal: A-Lex

Andreas disse em 2007 que a banda já estava planejando um novo álbum de estúdio para ser lançado em 2009, sendo o primeiro sem Igor Cavalera.[19] Como afirmou na sua página no MySpace, este seria um outro conceito de álbum, intitulado A-Lex, baseado na obra “A Laranja Mecânica”. O álbum foi gravado nos Estúdios Trama em São Paulo, com o produtor Stanley Soares.

A banda foi um dos convidados de destaque do Grammy Latino de 2008 em 13 de novembro. Eles cantaram um cover de “Garota de Ipanema” e uma nova canção chamada “We’ve Lost You” de seu álbum A-Lex.[20]

Kairos

Ver artigo principal: Kairos

Kairos é o 13º álbum do Sepultura. Foi produzido pela Nuclear Blast e pelo guitarrista Roy Z. Kairos possui um som mais pesado que seus antecessores e foi muito bem recebido pela crítica especializada. Chegou a ficar no top 100 de álguns países europeus, e vendeu mais de 2600 cópias nos EUA nas primeiras semanas de lançamento. O grupo francês Les Tambours du Bronx participou do álbum, na faixa “Structure Violence (Azzes)”.

Integrantes

Atuais

Derrick Green

Ver artigo principal: Derrick Green

Vocalista, nascido em Cleveland, no estado de Ohio, Derrick Green[21] canta desde os 16 anos, quando entrou na banda hardcore Outface. Ele e o guitarrista se mudaram para Nova York após seis anos juntos para formar a Overfiend. Quando o Sepultura anunciou que estavam procurando por um novo vocal, um dos produtores da Roadrunner enviou-lhes uma demo do Overfiend e pediu para darem uma olhada. “Nós enviamos pra ele uma fita de Choke e pedimos para colocar vocal nela, relembra Andreas. Nós gostamos pra caralho, então o convidamos para vir ao Brasil, porque ficaríamos aqui até o fim do ano passado. Então nos juntamos, e na mesma hora, sacamos que ele era o cara. Não apenas por causa das habilidades do Derrick, mas porque ele é como nós. Ele realmente acredita nas mesmas coisas, tem o clima certo, além do quê ele adora futebol.” Os outros membros do Sepultura aceitaram-no na banda, que apesar da adição desse elemento estrangeiro continua sendo totalmente brasileira.

Andreas Kisser

Ver artigo principal: Andreas Kisser

Guitarrista, Andreas Rudolf Kisser[22] é um paulista de São Bernardo do Campo. Casado com Patricia Perissinotto Kisser e três filhos: Giulia Kisser (1995), Yohan Kisser (1997) e Enzo Kisser (2005). Se interessou por música aos 10 anos, escutando os discos da mãe e do pai, como Beatles, Roberto Carlos e basicamente sertanejos como Tonico e Tinoco por parte de seu pai. Com o violão da avó, aprendeu os acordes principais através da MPB. Pela influência de um amigo mais velho, conheceu o Queen e o Kiss, o que revolucionou toda a sua maneira de encarar a música. Comprou sua primeira guitarra (Giannini- Supesonic) e um pedal de distorção. No começo de 1987, entrou para o Sepultura, se mudando para Belo Horizonte e começando uma carreira única na história da música brasileira. Junto com Max Cavalera, Igor Cavalera e Paulo Jr., viajaram pelos quatro cantos do mundo, divulgando um pouco mais a cultura brasileira através da música pesada. Andreas continua com o Sepultura, agora com Derrick Green nos vocais e também se lançou no mundo do cinema fazendo duas trilhas sonoras. Foi chamado para tocar com o Anthrax em alguns concertos, pois seu guitarrista Scott Ian estava acompanhando o nascimento de sua primeira filha.

Paulo Jr.

Ver artigo principal: Paulo Jr.

Baixista, Paulo Xisto Pinto Junior[23] nasceu em Belo Horizonte. Paulo Jr., como ficou conhecido, passou a se interessar pelo baixo logo cedo. Com apenas 15 anos acabou ingressando na sua primeira e atual banda, o Sepultura. Na época ele era amigo dos irmãos Max e Igor Cavalera que haviam criado a banda como uma brincadeira. Além deles a banda ainda contava com Jairo Guedez na guitarra. Segundo Paulo, o melhor show em que participou foi o primeiro fora do Brasil, outro foi em 1992 com o Black Sabbath na reunião da banda, o Rock in Rio, o Hollywood Rock. Com o Sepultura, Paulo gravou onze álbuns.

Eloy Casagrande

Ver artigo principal: Eloy Casagrande

Baterista, Eloy Casagrande[24] nascido em Santo André-SP, começou a tocar bateria aos 6 anos de idade, e antes dos 10 já participava em diversos programas de televisão, workshops e eventos, devido a sua notoriedade como baterista. Em 2005, foi vencedor do “Modern Drummer´s Undiscovered Drummer Contest 2005” na categoria até 18 anos, sendo o primeiro sul-americano a vencer o festival. Desde 2006 toca com a Banda Católica Iahweh. Em 2007 foi convidado a assumir o posto de baterista da banda solo do vocalista Andre Matos, realizando grandes turnês na divulgação do álbum Time to Be Free, e gravando, em 2009, o álbum Mentalize, que conta com participações suas nas composições. Posteriormente participou de bandas como Gloria Pelo Gloria em 2011 participou do Rock In Rio III e em 2012 gravou o quarto album da banda intitulado (Re)Nascido (2012) e AcllA. Com a saída de Jean Dolabella, em setembro de 2011, foi convidado para integrar o Sepultura.

Antigos

  • Wagner Lamounier – (vocal 1984-1985)
  • Jairo Guedez – (guitarra 1984-1986)
  • Max Cavalera – (somente guitarra 1984-1985, vocal e guitarra 1985-1997)
  • Igor Cavalera – (bateria 1984-2006)
  • Jean Dolabella – (bateria 2006-2011)

Integrantes da banda ao longo do tempo

Discografia

Álbuns, EPs, singles

  • Bestial Devastation (Split LP com Overdose, 1985)
  • Morbid Visions (Álbum, 1986) 3/5 estrelas[25]
  • Schizophrenia (Álbum, 1987) 4/5 estrelas[26]
  • Beneath the Remains (Álbum, 1989) 4.5/5 estrelas[27]
  • Arise (Álbum, 1991) 4.5/5 estrelas[28]
    • Arise (Single, 1991)
    • Dead Embryonic Cells (Single, 1991)
    • Under Siege (Regnum Irae) (Single, 1991)
    • Third World Posse (EP lançado apenas na Austrália, 1992)
  • Chaos A.D. (Álbum, 1993) 4.5/5 estrelas[29]
    • Territory (Single, 1993)
    • Refuse/Resist (Single, 1994)
    • Slave New World (Single, 1994)
  • Roots (Álbum, 1996) 4.5/5 estrelas[30]
    • The Roots of Sepultura (EP duplo, CD 1: ‘Roots’ / CD 2: Faixas raras, 1996)
    • Ratamahatta (Single, 1996)
    • Attitude (Single, 1996)
    • Roots Bloody Roots (Single, 1996)
    • Blood-Rooted (EP, 1997)
    • B-Sides (EP, 1997)
  • Against (Álbum, 1998) 3/5 estrelas[31]
    • Choke (Single, 1998)
    • Tribus (Single, 1999)
    • Against (Single, 1999)
  • Nation (Álbum, 2001) 3/5 estrelas[32]
    • Under a Pale Grey Sky (Ao Vivo, 2002) (O Sepultura não considera esse álbum um lançamento oficial)
    • Revolusongs (EP, 2002) 4/5 estrelas
  • Roorback (Álbum, 2003) 4/5 estrelas[33]
    • Live in São Paulo (Ao Vivo, 2005)
  • Dante XXI (Álbum, 2006) 3.5/5 estrelas[34]
  • The Best of Sepultura (Coletânea, 2006) (O Sepultura não considera esse álbum um lançamento oficial)
  • A-Lex (Álbum, 2009) 4/5 estrelas[35]
  • Kairos (Álbum, 2011)

Parcerias

  • A banda Overdose, que dividiu com o Sepultura um LP, no seu primeiro lançamento, Bestial Devastation.
  • Kelly Shaefer, da banda Atheist, John Tardy, da banda Obituary, Scott Latour e Francis Howard, da banda Incubus, fazem backing vocal na música Stronger Than Hate, do álbum Beneath the Remains. Kelly Shaefer também escreveu a letra dessa música.
  • A banda Titãs, na música Polícia, ao vivo no Hollywood Rock em 1994.
  • Mike Patton, vocalista da banda Faith No More, e Jonathan Davis, vocalista do Korn, na música Lookaway, do álbum Roots.
  • Carlinhos Brown, com vocal e percussão em diversas músicas do álbum Roots.
  • A tribo dos índios Xavantes, nas músicas Jasco e Itsári, do álbum Roots.
  • Jason Newsted, ex-baixista do Metallica, com letra e música em Hatred Aside, do álbum Against.
  • João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, na música Reza, do álbum Against.
  • Dr.Israel na música “Tribe to a Nation”, do álbum Nation.
  • Jello Biafra, ex-vocalista do Dead Kennedys, na música Politricks, do álbum Nation.
  • Jamey Jasta, vocalista do Hatebreed, na música Human Cause, do álbum Nation.
  • O rapper Sabotage na música Black Steel in the Hour of Chaos (cover do Public Enemy), no EP Revolusongs.
  • Jairo Guedez, ex-guitarrista da banda, nas músicas Troops of Doom e Necromancer, do CD/DVD ao vivo Live in São Paulo.
  • Alex Camargo, vocalista do Krisiun, na música Necromancer, do CD/DVD Live in São Paulo.
  • O rapper BNegão, na música Black Steel in the Hour of Chaos (cover do Public Enemy), do CD/DVD Live in São Paulo.
  • O Rappa, na música Ninguém Regula a América do disco Instinto Coletivo da mesma banda.
  • O cantor Zé Ramalho, na música A Dança das Borboletas, para a trilha sonora do filme Lisbela e o Prisioneiro. Também foi relacionada para este filme a música O Matador, ambas as canções são inéditas.
  • David Silveria, baterista da banda Korn na música Ratamahatta.
  • O grupo francês Les Tambours du Bronx, na faixa Structure Violence (Azzes), do álbum Kairos.
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Pós-Punk (Post Punk)

O termo Pós-Punk ou Post-Punk, em música, refere-se a um estilo musical surgido na Inglaterra após o auge do punk rock em 1977. O estilo mantém suas raízes no punk rock, mas é mais introvertido, complexo e experimental. O Pós-Punk lançou as bases para o rock alternativo, ampliando a estética sonora do punk rock, incorporando elementos de Krautrock (particularmente o uso de sintetizadores e a extensa repetição), música Dub jamaicana (especificamente técnicas de baixo), Funk americano e experimentações de estúdio.

O pós-punk é com freqüência e equivocadamente referido como sinônimo para música gótica ou como sinônimo de indie rock.

Contexto cultural

O punk alcançou seu auge em 1977, quando se tornou um fenômeno cultural de grandes proporções com centenas de entusiastas e dezenas de novas bandas de punk rock. Com o sucesso e divulgação, muitas de suas características originais — a irreverência, desprezo pela sociedade e a valorização da revolução pessoal — se tornaram irrelevantes para a maioria dos novos adeptos. Dois fatores principais para este fenômeno foram o interesse comercial da indústria cultural e a crescente influência da postura ‘festeira’ do punk norte-americano (em contraposição ao niilismo e inclinação destrutiva do punk inglês). De um lado, este desprezo pelos valores contra-culturais do punk permitiu que a música comercial se misturasse livremente com as novas características trazidas pelo punk, dando origem a bandas de punk rock que não eram necessariamente formadas por punks, do outro lado, os mais interessados em manter o punk como algo alternativo estabeleciam dogmas de conduta e estilo que limitavam severamente a criatividade. Neste período centenas de novas bandas surgiram representando em diferentes graduações estes dois extremos.

Apesar deste momento de agitação cultural ter sido inicialmente chamado de new wave (“nova onda”), é mais adequado atribuir este nome para as bandas da época com inclinações comerciais e influenciadas pela cultura pop e o nome Pós-punk para o lado mais alternativo e experimental. Em pouco tempo ambos se transformaram em característicos estilos musicais, por isso é comum atualmente referir a estes nomes como estilo ao invés de manifestação cultural. Pode-se considerar de forma geral o New Wave como a evolução acessível (mainstream) do Punk e o Pós-punk como o caráter alternativo das novas bandas (não uma mera negação do punk, como pode ser erroneamente sugerido).

Paralelo a estes dois fenômenos existiu também uma tentativa de isolamento e reconstrução do espírito originalmente contra-cultural punk. A partir dela a segunda geração punk se consolidou no começo dos anos 80 — nos Estados Unidos com a cena Hardcore, e na Inglaterra inicialmente com o street-punk, que se fundiria pouco tempo depois com os costumes skinheads e seria transformado no popular Oi!.

O início do pós-punk inglês ocorre com a formação das bandas Magazine e Public Image Ltd entre o final de 1977 e o começo de 1978. A primeira liderada pelo ex-vocalista e compositor do Buzzcocks, Howard Devoto, e a segunda pelo ex-vocalista e compositor do Sex Pistols, Johnny Rotten (que a partir de então assumiu seu nome real John Lydon). Ambas foram fundadoras e favoritas do punk inglês e com seus novos projetos assumiam deliberadamente uma postura de ruptura e aversão aos rumos comerciais e dogmáticos. Antes, a também veterana banda punk Wire já evidenciava estruturas mais complexas e melódicas em algumas faixas do seu disco de 1977, Pink Flag. No disco de estréia do Public Image Ltd, First Issue, de 1978, John Lydon introduz algumas das principais características do pós-punk: o destaque em primeiro plano para o baixo, a guitarra como uma espécie de segunda voz (em vez do uso de riffs como base para o cantor) e as letras cheias de cinismo e existencialismo. O Magazine, com seu disco de estréia, também de 1978, Real Life, inaugura outras essenciais características do estilo ao usar sintetizadores para criar uma ambientação gélida e espaço vazio, cantar com uma voz ácida e construir melodias mais emotivas.

Nos Estados Unidos, uma tendência para uma música mais introspectiva, e ao mesmo tempo influenciada pelo faça-você-mesmo e a antitécnica, já era desenvolvida paralela ao punk. Dois grupos da primeira geração punk norte-americana, Television e Patti Smith, eram obviamente distintos dos seus companheiros Ramones e Blondie, e demonstravam os elementos, pelo menos conceituais, do pós-punk inglês. É também dos Estados Unidos o grupo Rocket From The Tombs, que daria origem à banda punk Dead Boys e ao extremamente influente sobre o pós-punk, Pere Ubu. O primeiro mini-disco do Pere Ubu, Datapanik In the Year Zero, de 1978, inaugura o interesse pelo Surrealismo, a experiência com vocais bizarros e melodias ao mesmo tempo kitsch e extremamente enigmáticas. O disco de estréia, The Modern Dance, do mesmo ano, é um marco porque introduz o interesse pela experimentação de ruídos, colagens e efeitos sonoros nunca explorados pelo punk, além de substituir a poética objetiva pela abstração ambígua. O pós-punk americano, apesar de ser análogo ao inglês, não teve o mesmo significado. O punk americano, no que diz respeito a relação com a sociedade, era superficial comparado à atitude niilista e negativa dos punks ingleses, desta forma não havia, para a maioria, grandes problemas com a explosão de bandas “simpáticas” e comerciais (os veteranos americanos do Blondie eram desde o começo representantes desta postura) e conseqüentemente não haveria uma morte do punk de onde o pós-punk surgiria. O pós-punk norte-americano se desenvolveu paralelamente ao punk, tendo suas bases numa longa tradição de músicos experimentais como Velvet Underground, Captain Beefheart, Frank Zappa e Yoko Ono, e não os destroços do punk.

Houve outros elementos que podem ser considerados indícios e bases para o pós-punk. Em 1977 os fundadores do glam rock David Bowie, Brian Eno (ex-Roxy Music) e Iggy Pop, extremamente influentes sobre a primeira geração punk, lançam alguns dos mais importantes discos de suas carreiras. David Bowie com participação de Brian Eno começa a chamada “fase Berlim” com os discos Heroes e Low, nos quais o primeiro lado são músicas mais acessíveis e o segundo experimentação instrumental com sintetizadores. Iggy Pop, ex-vocalista dos Stooges, banda norte-americana precursora do comportamento explosivo do punk, com a colaboração de David Bowie lança Lust For Life e The Idiot, esse último sendo o irmão sombrio do primeiro. As músicas são especialmente introspectivas e sombrias, e já é usado o baixo em destaque, neste caso com uma melodia circular, psicodélica e depressiva, características previamente exploradas pelos Stooges na faixa We Will Fall, de 1970. Também o norte-americano Velvet Underground, que durante os três primeiros discos, lançados no fim da década de 60, introduziu várias características fundamentais do pós-punk, especialmente no segundo álbum, White Light / White Heat, exaustivamente citado pelo pós-punk.

A primeira geração inglesa

Partindo do princípio de que não é preciso conhecimento técnico de música para produzir algo interessante, muitos dos integrantes da primeira geração pós-punk inglesa — a maioria universitários e aficionados por arte — formaram suas bandas após o auge do punk, entre 1977 e 1978. Não se interessavam em propagar a limitação poéticas, comportamentais e formais (os dogmáticos 3 acordes) que o punk havia adquirido e nem na evidente superficialidade e comercialismo das outras bandas que também surgiam naquele momento. As referências de arte de vanguarda que apareciam diluídas nos primeiros anos do punk inglês iam ao encontro dos interesses destes novos músicos que, ao contrário, supervalorizavam esses aspectos mais cerebrais.

A primeira geração, apesar de revelar o caráter sombrio já mencionado, era de modo geral otimista, muitas vezes com ritmos dançantes — influência da grande difusão do reggae, dub e ska entre punks nesta época — mas ultrapassava nitidamente todas as barreiras estilísticas do punk. Um caráter principal desta geração é o interesse pela experimentação de texturas sonoras e de novas tecnologias, que se explica pela crescente influência das bandas do experimentalismo alemão Krautrock e da importação de estilos estrangeiros. Há também numerosas referências nas letras a outros campos das artes, como literatura, artes plásticas e teatro e à filosofia. Bandas de destaque desta primeira geração são The Mekons, This Heat, Public Image Ltd, Magazine, The Fall, Raincoats, Siouxsie & the Banshees e Wire.

A segunda geração inglesa

Um fenômeno importante para a consolidação do pós-punk é a transformação de pequenas lojas de discos em gravadoras independentes e a sólida alternativa que elas representavam às grandes empresas que dominavam o mercado fonográfico. Rough Trade, Factory, Small Wonder, entre outras, por volta de 1978 criaram informalmente uma rede de gravadoras independentes e foram responsáveis pela promoção da maior parte dos artistas pós-punk, que nunca conseguiriam contrato com as grandes gravadoras. Em 1979 as primeiras bandas pós-punk começam a serem reconhecidas e são lançados alguns dos mais importantes discos da cena: Entertainment!, do Gang of Four e Dirk Wears White Sox, do Adam & The Ants.

É em 1979 também que vários conjuntos recém formados e com uma forte identidade estilística lançam suas primeiras gravações. Algumas características dessa identidade são a atmosfera sonora etérea, algumas vezes criando uma ambientação desértica e angustiante, e a interpretação introspectiva do sombrio, o existencialismo e o delírio a partir da ótica metropolitana, ou em alguns casos de pontos de vista surreais/metafísicos. Nesta época a new wave estreava um romantismo ingênuo, o New Romantic; comparados, a nova geração pós-punk era a versão negra, um ultra-romantismo de poética pessimista e inclinação suicida. Joy Division abandona a fase punk Warsaw e lança em 1979 o disco marco Unknown Pleasures. O recém formado Bauhaus, com sua ironia macabra, lança o single Bela Lugosi’s Dead neste mesmo ano. Também novato, Killing Joke estréia com o atmosférico mini-álbum Almost Red. The Cure debuta com a melancolia dançante do disco Three Imaginary Boys.

Sob influência dessas bandas, dezenas de outros discos são lançados nos anos seguintes e o pós-punk ganha grande exposição. Entre os que tiveram maior repercussão na mídia estão os U2,New Order, Joy Division, The Cure, Siouxsie & the Banshees, Bauhaus, The Smiths, Killing Joke, New Model Army, Psychedelic Furs e Echo & the Bunnymen. Ao mesmo tempo algumas bandas que não desfrutavam da fama sobreviviam com as gravadoras independentes e com a emergente cena anarcopunk/peace-punk que era um reduto para festivais e selos extremamente underground e independentes — mas praticamente sem lucro, totalmente voltado para divulgar o trabalho dos que não tinham condições de assinar com outras gravadoras. Outras bandas importantes, mas sem o enorme sucesso que o pós-punk experimentava na época, são Southern Death Cult, Theatre of Hate, Blood And Roses, The Mob, Lack of Knowledge e The Cravats.

O pós-punk norte-americano

Nos Estados Unidos o pós-punk não apresentou diferentes gerações, mas durante toda sua existência coexistiram duas linhas claramente distintas e identificáveis. Algumas bandas tinham um caráter evidentemente melódico, dando ênfase à guitarra e à notas mais emotivas. O uso característico do baixo, dos ingleses, não aparece com intensidade nessa variação melodiosa, que privilegiava uma instrumentação “seca” e mais aguda. A outra linha, em destaque os músicos da cena No Wave, estava alinhada com o não-rock áspero e indigesto da cena Industrial que começava a se formar naquele momento. O baixo era muitas vezes deixado em segundo plano para ser substituído por texturas sonoras (metais, caixas e outros objetos) também graves, resultando numa música formalmente equivalente ao estilo inglês, mas com uma poética bem mais agressiva e perturbadora. O uso massivo de microfonias e outros ruídos elétricos como partes fundamentais da estrutura ajudavam a desconstruir a forma tradicional de música (incluindo o próprio punk rock e sua estrutura de acordes). Os temas eram sombrios, escatológicos e misantrópicos, numa ótica nitidamente niilista. Fora da No Wave outros artistas seguiriam essa linha como Big Black, Savage Republic, Swans e Sonic Youth (quanto aos três últimos, referindo-se apenas ao começo da carreira).

A maioria destas bandas não é reconhecida como pós-punk por causa do clássico estilo inglês, mas considerando no sentido amplo, como fenômeno cultural, pode-se afirmar que Television, Savage Republic, Pere Ubu, Suicide, 100 Flowers, Lydia Lunch, The Contortions, Big Black, Redex, Hüsker Dü, entre outros, representaram a versão norte-americana do pós-punk.

Esta distinção América e Inglaterra não era estrita e nem mesmo óbvia, considerando que ambas versões se influenciavam profunda e mutuamente — por exemplo, Pere Ubu e Suicide foram favoritos e extremamente influentes entre os ingleses assim como Public Image Ltd, na sua fase experimental, e o Gang Of Four eram admirados pelos norte-americanos.

Diluição do Pós-Punk em novos estilos

Uma série de mudanças culturais e fatos marcantes acabaram determinando a diluição do pós-punk em novos estilos.

Em 1980, Ian Curtis, vocalista do Joy Division, se suicida. Os outros integrantes formaram em seguida o New Order, banda que começou fazendo pós-punk puro mas logo passou a fundir o estilo com a Dance Music eletrônica, assim acabaram criando um novo estilo musical, o dance rock, e seguiram fazendo músicas do estilo. O Oi! se tornava o centro das atenções da cena rock alternativa inglesa, visto como o renascimento do punk, mas seu lema cerveja, futebol e brigas era obviamente incompatível com a sensibilidade e introspecção do pós-punk. O anarcopunk, um dos únicos redutos alternativos para estes músicos, por volta de 1982 começou a ter suas primeiras divergências com a aparição de fanáticos e foi severamente abalado pelo surgimento de subdivisões em novas cenas, como o infame positive-punk. O clube Batcave abre nesta mesma época e alguns descontentes anarco-“positive-punks”, a maioria ligada estilisticamente ao pós-punk, abandonam o já enfraquecido anarcopunk e se unem a emergente cultura gótica. O New Wave apresentava coisas cada vez mais diferentes com o auxílio da recente MTV. O Bauhaus anuncia o fim da banda em 1983. Os já famosos Siouxsie and the Banshees e The Cure também começam a se afastar do estilo para explorar um novo caminho no rock gótico.

Nos Estados Unidos o pós-punk se transforma no rock alternativo, com o R.E.M. e Hüsker Dü. Sonic Youth, com influência do lado mais experimental e ruidoso, expande a poética da nova música alternativa, paralelamente aos ingleses do The Jesus and Mary Chain. Os veteranos produzem discos que não despertam mais o interesse do público, como o Pere Ubu, ou se tornam caricaturas da New Wave, como o Devo.

O processo de diluição em novos estilos de música alternativa progride durante todo o resto dos anos 80. E outros estilos com influência nítida do pós-punk são o neofolk, a neo-psicodelia, a música etérea e as manifestações tardias de música industrial.

Críticas

O pós-punk foi criticado por uma grande parcela da segunda geração punk, que enxergava a nova cena como uma manifestação de academicismo e intelectualismo. Factualmente o problema era fruto da crescente valorização do que então era chamado de credibilidade de rua — o orgulho da classe operária defendida pela maioria de fãs do Oi! que desclassificava, acusando de “falsos”, qualquer punk que não fosse suburbano-proletariado — e seu nítido contraste com a imagem do universitário, em geral estudante de artes, associada ao pós-punk. Ironicamente o estilo street-punk, precursor do Oi!, teve suas raízes na banda The Clash, formada pelo filho de diplomata e membro da classe média, Joe Strummer, e, no começo da carreira, pelo ex-Public Image Keith Levene. Exemplos de citações ditas intelectuais na produção pós-punk: o nome da banda The Fall e da música Killing an Arab, do The Cure, fazem referência ao filósofo existencialista Albert Camus; o nome Bauhaus 1919 é usado como símbolo da antítese entre o funcionalismo da escola de arte alemã Bauhaus e o início do irracionalismo do cinema expressionista alemão, fundado em 1919; Pere Ubu como referência ao personagem da peça Ubu Roi do pre-surrealista francês Alfred Jarry, etc.

Outra crítica, menor, mas que se estende até os dias de hoje, é ao uso recorrente de imagens nazi-fascistas por algumas bandas. Quando o pós-punk inglês se consolidou, o uso de suásticas e símbolos nazistas como manifestação de niilismo já havia se tornado extremamente impopular entre punks, em primeiro lugar pela influência ativista-esquerdista do The Clash e do festival Rock Against Racism (“Rock Contra o Racismo”), e em segundo lugar pela crescente preocupação de skinheads e punks Oi! em se dissociarem da imagem de neonazistas. Seguindo o caminho inverso, a cena Industrial progressivamente incorporava imagens fascistas para construir sua poética misantrópica de repulsa, desconforto e terror e acabou influenciado uma parte, especialmente a segunda geração, da cena pós-punk. Ao contrário da brutalidade visceral dos industriais e da maioria pós-punk que demonstrava em algum nível simpatia pelos movimentos revolucionários esquerdistas —como maior exemplo o socialismo do Gang Of Four, The Three Johns e Mekons—, alguns músicos pós-punk utilizavam estas imagens sutilmente e de forma ambígua, em geral como humor negro —reminiscência do niilismo punk— ou como intensificador da sensação de descrença. Apesar de não fazerem apologia à sistemas e teorias nazi-fascistas, muitas bandas ainda são extremamente criticadas por indivíduos que abominam o uso destas imagens. Exemplos de referências fascistas na poética pós-punk: Joy Division, literalmente divisão da alegria, é uma referência literária ao setor em que judias eram forçadas a servirem sexualmente os soldados nazistas; New Order, remete a nova ordem do império nazista alemão (a banda mais tarde afirmou publicamente que esta não é a origem do nome e o livro “24 Hour Party People: What the Sleeve Notes Never Tell You”, de Tony Wilson, esclarece que a denominação foi sugerida pelo empresário da banda após ele ter assistido um documentário sobre o Khmer Vermelho, exército revolucionário comunista cambojano que passou a se chamar “New Order of Kampuchean Liberation”); a música Final Solution do Pere Ubu, apesar de ser baseada num jogo infantil, sugere imediatamente o princípio de extermínio judeu de mesmo nome; Savage Republic tem como símbolo o logotipo das milícias nazistas do Sul da África com a suástica substituída por uma estrela, etc.

Manifestações fora da música

É possível identificar o estilo pós-punk em outras produções culturais dos anos 80.

No cinema

Alinhados a estética pós-punk[carece de fontes]:

  • The Right Side Of My Brain, do norte-americano Richard Kern, 1985
  • Asas do Desejo (Der Himmel Über Berlin), do alemão Wim Wenders, 1987

Famosos por incorporar personagens e referências à cultura pós-punk:

  • Fome de Viver (The Hunger), filme inglês de Tony Scott, 1983. Com participação da banda Bauhaus.
  • Cidade Oculta, do brasileiro Chico Botelho, 1987. Com participação da Patife Band, no famoso clube dark Madame Satã.
  • Donnie Darko (Donnie Darko) de Richard Kelly, 2001. Que é ambientado na atmosfera sombria do fim dos anos 80 e cuja famosa trilha sonora possui bandas como Echo and the Bunnymen, Joy Division, The Psychedelic Furs e The Cure.

Nos quadrinhos (banda desenhada)

  • Sandman, de Neil Gaiman
  • Vários trabalhos de Alan Moore (que produziu o disco-quadrinhos Old gangsters never die com membros da banda Bauhaus)

Pós-punk no mundo

Apesar de muitas bandas fora da Inglaterra e Estados Unidos serem meras cópias do estilo destes países, algumas cenas mundiais desenvolveram naturalmente sua própria estética pós-punk e produziram importantes contribuições ao gênero.

Alemanha

Muitas vezes aceito como a ala underground da Neue Deutsche Welle (“Nova Onda Alemã”), o pós-punk alemão foi marcado pela influência neo-dadaista e pelo uso de instrumentos eletrônicos, além do notável interesse pelo radicalismo experimental da música Industrial. As principais bandas são Abwärts, D.A.F, Die Tödliche Doris, Einstürzende Neubauten, Malaria! e Mittagspause.

Austrália

O pós-punk australiano, como o alemão, é em grande parte ligado a estética da música industrial. Algumas bandas importantes: Boys Next Door (que faria sucesso na Inglaterra como Birthday Party e depois Nick Cave and the Bad Seeds), Crime And The City Solution, The Limp, Prod, The Same, SPK, Severed Heads e Wild West.

Brasil

Entusiastas e membros da geração pós-punk brasileira da década de 80 são conhecidos como darks (mais tarde o termo passou a ser utilizado também com o sentido de gótico). A banda Cabine C é considerada pioneira da cena Dark paulista. Outras bandas de destaque são Akira S e As Garotas Que Erraram, Akt 2, Black Future, Chance, Fellini, Ira!, Legião Urbana, Plebe Rude, Escola de Escândalo, Finis Africae, Arte no Escuro,O Cálice, 5 Generais, Quarto Mundo, As Mercenárias, Patife Band, Smack, Harry, Violeta de Outono (embora esta também tenha flertado com o psicodelismo dos anos 60 e com o rock progressivo dos anos 70), Varsóvia e Vzyadoq Moe, e as duas coletâneas principais da cena paulista, Não São Paulo Volume 1 e Enquanto Isso….

Países Baixos

A talvez mais importante gravadora pós-punk, Factory Records, lançou uma subsidiária na Bélgica chamada Factory Benelux. O pós-punk dessa região é chamado Ultra e engloba também experimentações não ligadas ao rock. Houve muitos artistas importantes nesta região da Europa, com destaque para as bandas The Ex, Flue, Mecano, Minny Pops e The Names.

Portugal

Apesar de esta variante ter tido pouca repercussão em Portugal, destaca-se sobretudo o primeiro álbum dos Sétima Legião, “A um Deus desconhecido” onde são notadas várias influências do movimento de Manchester, em particular dos Joy Division.

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Echo & The Bunnymen

Echo & the Bunnymen é uma banda inglesa de pós-punk formada em Liverpool, em 1978. Entre suas influências destacam-se The Beatles, The Velvet Underground e The Doors.

As origens da banda remontam ao final dos anos 70, quando Ian McCulloch, Pete Wylie e Julian Cope formam os The Crucial Three. Em 1977, Wylie e Cope deixam o grupo para criar os The Teardrop Explodes e os Whah!, respectivamente.

Em 1978, McCulloch, juntamente com Will Sergeant, criam o duo Echo, utilizando uma caixa de ritmos em substituição da bateria. No mesmo ano, o baixista Les Pattinson junta-se à banda, e realizam o seu primeiro concerto ao vivo no clube Eric, em Liverpool, com o nome Echo & The Bunnymen.

No ano seguinte, em 1979, a banda lança o primeiro single, Pictures on My Wall, e o sucesso deste dá-lhes um contrato com a editora Korova. O baterista Pete de Freitas entra para o grupo.

Em 1980, gravam o primeiro álbum de originais, Crocodiles que, juntamente aos dois trabalhos seguintes, Heaven Up Here e Porcupine, lhes trás reconhecimento. Porcupine chega ao #2 das tabelas do Reino Unido.

O álbum de 1984, com o single Killing Moon, entra, mais uma vez, para o Top Ten das tabelas, atingindo a quarta posição, no Reino Unido, e entrando para o Top 100, nos EUA.

Três anos depois, os Echo & The Bunnymen lançam novo álbum que atinge a posição #51 nos EUA, o melhor lugar até à data, e o quarto lugar no país natal. No entanto, o álbum não apresenta nenhuma evolução nos trabalhos da banda, e McCulloch abandona o grupo para trabalhar a solo. Em 1989 edita Candleland, e no ano seguinte Mysterio. Neste período, Noel Burke substitui McCulloch nos vocais, e lançam Reverberation.

Em 1994, McCulloch forma os Electrafixion com Will Sergeant. Mais tarde, em 1997, é a vez de Pattinson se juntar, e de novo reúnem os Echo & the Bunnymen.

Integrantes

Formação original

  • Ian McCulloch – vocal
  • Will Sergeant – guitarra
  • Les Pattinson – baixo
  • Pete de Freitas – bateria

Outros integrantes

  • Mark Fox – bateria
  • Noel Burke – vocal (em Reverberation)
  • Damon Reece – bateria
  • Jake Brockman – guitarra e sintetizador

Discografia

  • 1980 – Crocodiles
  • 1981 – Heaven Up Here
  • 1983 – Porcupine
  • 1984 – Ocean Rain
  • 1985 – Songs to Learn & Sing
  • 1987 – Echo & the Bunnymen
  • 1990 – Reverberation (Com Noel Burke nos vocais)
  • 1997 – Evergreen
  • 1999 – What Are You Going to Do with Your Life?
  • 2001 – Flowers
  • 2002 – Live in Liverpool
  • 2005 – Siberia
  • 2006 – Me, I’m All Smiles (Live)
  • 2009 – The Fountain (álbum)
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